“Não vejo a existência de currículos integrados atualmente”
Pesquisadora Jocelyne Gacel-Ávila avalia que quadro de internacionalização e integração regional aprofunda desigualdades na América Latina e Caribe
Marcílio Lana / A coordenadora do eixo “Educação Superior, Internacionalização e integração da América Latina e Caribe” da III Conferência Regional da Educação Superior (CRES 2018), que também é coordenadora do Observatório Regional sobre Internacionalização e Redes em Educação Terciária da América Latina e Caribe (OBIRET), Jocelyne Gacel-Ávila, avalia que o processo de integração na região ainda tem um caminho longo e tortuoso pela frente.
Quais serão as discussões do eixo “Educação Superior, internacionalização e integração da América Latina e Caribe” durante a CRES 2018?
Durante debate sobre o eixo "Educação Superior, Internacionalização e Integração na América Latina e no Caribe" serão apresentados resultados de um estudo único que oferece informações importantes sobre as características do processo de internacionalização das instituições de ensino superior na região e esperamos que possa ajudar a fornecer feedback sobre as práticas atuais e um melhor planejamento e tomada de decisões políticas. Estará presente, também, a discussão sobre a importância da internacionalização da formação de professores para que a região possa atualizar seus modelos educacionais e capacitar os alunos com as competências internacionais e interculturais demandadas pelo contexto global de hoje. Também serão apresentados dados sobre a internacionalização da pesquisa e produção de conhecimento e sobre as características da cooperação internacional em nossa região.Apenas 5,2% dos universitários no mundo usufruem da possibilidade de mobilidade. Como é a situação na América Latina e Caribe? Quais os desafios da região?
Na América Latina e Caribe, a mobilidade estudantil é uma das mais baixas do mundo, apenas 0,9% do total de matrículas. A Ásia tem 27%, a Europa do Oeste e a América do Norte têm 15%, a Europa Central e Oriental 10% e a África Subsaariana 7%. A América Latina e Caribe recebe apenas 2,2% dos estudantes internacionais do mundo, o que representa 0,3% de suas matrículas. A maioria desses estudantes é da própria América Latina. A região deve estabelecer mais políticas públicas e institucionais para aumentar a mobilidade e dedicar mais recursos, especialmente para os alunos mais desfavorecidos. Os atuais esquemas de mobilidade favorecem mais estudantes oriundos de famílias que detém mais recursos socioeconômicos. Isso amplia a disparidade em uma região que já é caracterizada por uma das mais altas desigualdades do mundo. Os governos devem estabelecer políticas a esse respeito e as instituições de ensino superior devem melhorar seus serviços para estudantes internacionais e profissionalizar mais seus escritórios encarregados da projeção internacional e a coordenação do processo de internacionalização.
É possível pensar em currículos integrados, já feitos pensando no intercâmbio de estudantes e pesquisadores na América Latina e Caribe, como tem feito a União Europeia?